[Rikan Motsai] Nem todos os palhaços riem

Rikan, com uma expressão apática, observava todas as pessoas que caminhavam sorridentes e alegres naquela misera cidade. Eram risos e conversas frenéticas indo de um lado para o outro. Tinha uma total aversão daquele falso sentimento que mascarava uma realidade completamente desigual e egocêntrica. Nunca entenderia o porquê as pessoas fingiam ser atores umas para as outras quando todos estavam na mesma merda, sendo oprimidas por um soberano governo, que idolatra heróis que mais gostam de aparecer em noticiários e mídias do que se preocuparem com a população atual do país.

Suspirou fundo, ignorando todo aquele fato problemático, e continuou andando a esmo pelas ruas de Musutafu. Tudo iria terminar igual todos os outros tediosos dias, até o momento em que ouviu a voz imponente de um senhor anunciando um grande evento que ocorreria na cidade. Um circo. Nada era pior do que um circo, que fazia as pessoas esquecerem dos problemas que assolavam a vida e ficassem rindo sem parar com pessoas exóticas que não conseguiram achar um trabalho normal no agressivo mercado de trabalho e tiveram que utilizar de suas "anomalias" para ganhar dinheiro. Um olhar de completo desgosto fora lançado para o anunciador e, logo após, Motsai pensou em voltar para a pequena caminhada.

Girou os calcanhares em direção ao caminho de casa, quando, subitamente, foi interrompido por um jovem garoto que apanhou sua mão. Ficou surpreso por aquela ação completamente estranha, não só pela ação, mas a fala que a seguiu. Não conseguiu entender o que significava tudo aquilo, mas, quando abriu a boca para perguntar sobre, um gemido agonizante atravessou os lábios do jovem. Franziu a testa no momento em que viu um senhor tacando mais uma chicotado sobre as costas do garoto. Rikan apenas expressou um leve sorriso em direção ao vetusto e pousou os olhos no garoto, ainda querendo saber o motivo daquela frase, mas, sabendo que de nada adiantaria ficar ali, tomou o caminho para a casa.

— Essas pessoas malucas estão em todos os locais! — Comentou consigo em voz baixa, enquanto uma ligeira brisa balançava os rebeldes fios de cabelos avermelhado e trazia consigo um pequeno papel de cor roxa que pousou aos pés. Quando os olhos avistaram o pequeno ticket, Rikan curvou-se e apanhou-o, analisando cuidadosamente. Queria ter picado o ingresso no momento em que o viu, nunca iria concordar em participar daquele sórdido evento. Porém, a frase daquele jovem precisava de uma interpretação. Desse modo, tomou a decisão de adentrar a lona e procurar um local vago para sentar-se e esperar a apresentação ter seu início.

As Luzes se apagaram na grande tenda, então o show começa. Aquilo era muito incomum, um show dos horrores em pleno seculo xxi. Parecia mais que um túnel do tempo havia se aberto. Em meio a piruetas e acrobacias o velho homem se aproximava ao centro do show. Olá cavalheiros e damas, bem vindos, aqui vocês conheceram o portal para a boca do inferno, essa noite vocês conheceram coisas que tiraram vosso sono. Enquanto o velho falava, suas vitimas, pessoas com estranhas anomalias começavam a passar se revelando ao publico. 


Não muito longe do assento de Rikan, o mesmo jovem que o parou horas antes chamava sua atenção. Por favor, venha comigo, preciso lhe contar. Venha até a tende verde, meu lar. 

As luzes se apagam, quando volta a acender no centro do palco a um grande homem capaz contorcer sua coluna a noventa graus. E também no meio dessa pequena confusão ordenada, o jovem some. Natziu, O contorcedor. Capaz de fazer movimentos inimagináveis com sua coluna. Exclamava o velho, apresentando aquela pessoa como se fosse um troféu.


Aquele estava sendo um dia bem fora do habitual para Rikan. A unica questão era descobrir quem era o jovem que tanto o perturbava e porque as pessoas se satisfazem com essas apresentações circenses sem sentido e emoção.